Historial
Ancas assenta numa pequena elevação e dista cerca de 6 Kms da sede do concelho; dada a sua localização sugere-nos a existência de civilização castreja e dolménica nos arredores.
Já existia no séc. XII, século da sua iniciação paroquial. Segundo, um documento originário do cartório de Santa Cruz de Coimbra trás a doação - da "villa" de Enchas, Encas, Ancas – finalmente, feita por D. Afonso Henriques, em Novembro de 1143, a D. Marina Soares. Os limites aí indicados, relativamente fáceis de identificar no terreno, fazem a referência a “locus dictus” e a povoações como Sá (de Sangalhos), Mogofores, Paredes e S. Lourenço.
Em 1561, aparece naquilo que chamamos hoje o mais antigo mapa de Portugal. De realçar que é a única terra do actual concelho de Anadia que aí consta.
No século XVIII era lugar da Província da Beira, Bispado de Coimbra, Arcediago do Vouga, Correição de Montemor, provedoria de Esgueira, termo da Vila de Recardães.
O pároco da freguesia, detinha o cargo vitaliciamente com o título de prior, sendo apresentado pela casa de Aveiro, que detinha o direito de padroado. No reinado de D. José com a condenação do Duque de Aveiro passou a Padroado Real.
Com a Revolução liberal, toda a divisão anacrónica do reino em pequenos concelhos, muitos dos quais sem continuidade geográfica, com pequenas parcelas encravadas no meio de outros, terminou.
Ancas que pertenceu primitivamente ao concelho de Recardães, passa a fazer parte do concelho de S. Lourenço do Bairro, sendo nesta altura incorporado no concelho de Anadia em 31 de Dezembro de 1853, em virtude do decreto que extinguiu o concelho de S. Lourenço do Bairro.
Texto de: Graça Pintado
Bibliografia consultada: GONÇALVES, A. N., Inventário Artístico de Portugal - VI, Distrito de Aveiro, Zona Sul, Lisboa, 1959, p.71
Carta de doação de Ancas por D. Afonso Henriques a Marina Soares no ano de 1143
Tradução da Carta de Doação:
1143, Novembro – D. Afonso Henriques doa a vila de Ancas (c. de Anadia) a Marinha Soares.
TT - CR, Santa Cruz de Coimbra, m. I (régios), doc. 24.
Publ.: Documentos Medievais Portugueses, Documentos Régios, vol. I, t.I, Lisboa, 1958, doc. 201.
Em nome de Cristo. Uma vez que é apanágio dos reis, e de todo o varão detentor do título de homem livre, satisfazer a sua vontade em relação aos seus próprios bens, eu Afonso rei de Portugal, filho do conde Henrique e da rainha Teresa, neto também do grande rei Afonso decidi fazer carta de doação e firmidão a ti Marinha Soares da minha vila ("uilla") própria que é chamada Ancas (Enchas) e que assim é delimitada. A oriente como divide com Mogofores e com Sá por uma fonte de Lodeiro como verte água por aquele sobreiro forcado e daí por aquela estrada mourisca e daí por aquela lagoa e daí àqueles poços e daí àquela lagoa e daí por aquela estrada pequena que vai a Paredes e daí por aquela mamoa como verte água para áfrico e daí à via de S. Lourenço e daí liga-se por aquela fonte de Lotário. Dou e concedo-te essa sobredita vila ("uillam") com as suas direituras e com todo o meu direito onde quer que possas alcançar para remédio da minha alma e pelo bom serviço que a mim sempre fizeste, de modo que deste dia tu a possuas como eu a possuí e toda a tua posteridade em perpétuo e faças dela o que te agradar.
Por isso todo aquele que contra esta minha doação levantar ameaça ou de alguma maneira tentar diminui-la ou alterá-la, se feita segunda ou terceira admoestação não pagar a adequada coima, seja maldito e separado do senhor Deus e além disso pague a ti e a teus sucessores essa vila ("uillam") em duplicado ou quanto for melhorada e DC os soldos de boa moeda e ao senhor da terra outro tanto e reconheça-se culpado em divino juízo da iniquidade que perpetrou e no juízo final seja submetido a rigorosa punição, e esta minha dádiva tenha sempre validade.
Feita essa firmíssima carta de doação no mês de Novembro da Era de Mª Cª LXXXª Iª. Eu Afonso príncipe da pátria, Portugalense que esta doação seriamente mandei escrever perante testemunhas idóneas roboro e com as minhas próprias mãos faço este sinal.
Egas Moniz mordomo da cúria confirmo, Álvaro alferes conf., Fernando Cativo cof., Mendo Afonso conf., o senhor de Coimbra Rodrigo conf.
Pedro Mendes procurador testemunha, Randulfo ts., Gonçalo Dias ts., Martinho Anaia ts., Fernando Guterres ts.,
Alberto Chanceler notou.
(Sinal) Portugal.
Tradução de Maria Helena da Cruz Coelho
Professora da Faculdade de Letras de Lisboa